11 março 2011

O “Socialisme” de Godard

Jean-Luc Godard dispensa apresentações. O cineasta franco-suíço é um dos principais nomes da "Nouvelle Vague", assumidamente vanguardista, polémico, ágil e original quer na substância, quer na forma. Um homem do Maio de 68 que não saiu nem da ética, nem da estética desconstrutiva e provocadora que caracterizou esta geração. Um homem que insiste em demonstrar as perplexidades e contradições do século XX e que teima em provar que nenhuma verdade absoluta é absolutamente verdade.
É, pois, deste espírito irrequieto que nasce o "Film Socialisme”.
Com estreia nacional em Serralves a 6 de Março, pensei – mais uma vez – que não iria ter oportunidade de o assistir, periférico que estou (por livre escolha) no meio do Atlântico. Mas não… Ando cada vez mais enganado a este respeito. A periferia cultural dos Açores é, de facto, cada vez menor! E isto deve-se ao esforço não só de entidades públicas, como à persistente carolice de alguns. Desta feita, é ao “9500 CineClube de Ponta Delgada” que devo a possibilidade de ver este filme. Aqui fica o meu reconhecimento à instituição que há um ano vem fazendo o que muitos achavam impossível. Bem-haja!
Mas vamos ao que interessa: ao filme.
O filme é uma colagem de imagens, que nos remete para uma abordagem de “associação livre das ideias” ao estilo psicanalítico. A partir de um cruzeiro, que funciona como centro do mundo e da história, Godard vai propondo a rediscução de significados através de frases e imagens… Vão surgindo temas – política, Médio-Oriente, liberdade, igualdade, fraternidade – a partir de pequenas cenas sem grande nexo causal entre si, interrompidas por textos de diversos autores e em diversas línguas (do francês ao espanhol, do inglês ao alemão, do latim ao árabe…). No meio deste processo e tratando-se de um filme de duração de cerca de 100m, parece-me que Godard exige demais do espectador e não consegue discutir o que se propôs discutir: socialismo.
Enfim, tenho de confessar que fiquei um bocadinho decepcionado com o filme (sobretudo porque é de Godard que estamos a falar e o tema escolhido era aquele e não outro…).
Mas, ainda assim, acho que o filme vale a pena, enquanto poema visual, e que é digno de registo no contexto do cinema de autor que se produziu na Europa nos últimos tempos.

0 comentários:

Enviar um comentário