"O cinema é um modo divino de contar a vida"
Frederico Fellini
Poderia voltar a escrever uma “ crítica literária” como já vem sendo hábito ultimamente, todavia decidi-me por outra espécie de crítica, se assim pudermos considerar: uma crítica cinematográfica absolutamente despretensiosa. Uma das minhas resoluções de ano novo era justamente tornar-me mais cinéfilo e foi nessa medida que decidi começar por um dos maiores cineastas italianos de sempre – Giuseppe Tornatore. Desde sempre que o Cinema exerceu sobre mim um fascínio peculiar, com os memoráveis clássicos da Disney. Desde que me lembro também o Cinema Francês sempre foi o meu dilecto. Sempre me ria a bom rir com os filmes do Le Gendarme , inesquecivelmente interpretados pelo genial Louis de Funès. Aliás tenho saudades de rever esses filmes e, de facto, um dia destes tenho de tirar tempo para o fazer. Enfim, perderia imenso tempo se tivesse que escrever aqui sobre as pérolas infinitas do fantástico Cinema Francês, mas não o farei aqui, quiçá noutro post. Aqui como, de resto, me propus, falarei de Tornatore, cineasta italiano nascido em 1956, um homem com uma filmografia de qualidade excepcional, onde encontramos o fascinante Cinema Paradiso ou o, não menos tocante, Malèna.
No que concerne ao Cinema Italiano creio que, no que toca à sua grandiosidade, poderemos indagar: “Palavras para quê?”. Nomes como Visconti, Fellini, Bertolucci, Pasolini, Moretti, Antonioni, entre muitos outros sonantes, marcaram indelevelmente o cinema europeu. Assim também o fez Tornatore quando deu ao mundo o aclamado Cinema Paradiso; um dos filmes mais belos e mais comoventes que alguma vez tive ocasião de ver. Cinema Paradiso é uma prova - rara - de como a simplicidade pode ser intensa. Um filme onde se constrói uma amizade forte e verdadeira, de profundo respeito e grande companheirismo e solidariedade; um filme sobre a infância, sobre os sonhos para o futuro, às vezes, ou muitas das vezes não realizados; um filme que toca e retrata todos os sentimentos humanos de uma forma única, portanto um filme universal e intemporal.
Tornatore faz obra-prima atrás de obra-prima e todos os seus filmes marcam pelo lirismo, pela poesia e pela comoção. Cinema Paradiso é um filme nostálgico e saudosista e por isso um filme completo, cuja história é a seguinte: Salvatore de Vitto, na infância conhecido como Toto, vive em Roma e é um cineasta famoso, que recebe a notícia de que Alfredo morreu; este era o projeccionista do Cinema Paradiso, na cidade natal de Toto, quando este ainda lá vivia, em criança. Toto relembra a infância na sua cidade natal e em especial o Cinema Paradiso, onde ia sempre e vivia na companhia do projeccionista Alfredo, bem mais velho, para não dizer já idoso naquela época. Alfredo fez com que Toto começasse a apreciar a Sétima Arte, fazendo com que este se decidisse, inclusive, pela carreira de cineasta. É a morte de Alfredo, anos mais tarde, que faz então Toto, já adulto, retornar à cidade natal para o enterro, relembrando maravilhado e nostálgico, a sua infância, a altura em que começou a apreciar uma das melhores coisas do mundo: o cinema! Toda a história é-nos revelada pela memória de Toto – já adulto – que se recorda da sua relação com Alfredo e de toda a sua infância, após receber a notícia da morte daquele. Cinema Paradiso é, sem dúvida alguma, um filme ímpar do cinema italiano e mundial. Ao mesmo tempo lírico e poético, é uma película verdadeiramente emocionante, sem nunca cair no melodrama barato. Nunca. A tónica colocada por Tornatore nas relações familiares e nas relações humanas - tema recorrente no cinema italiano - contribui inquestionavelmente para que nos apaixonemos pelo filme. Atesta o sucesso de Cinema Paradiso os muitos prémios e indicações que recebeu, tendo ganho, em 1990, um Óscar para Melhor Filme Estrangeiro.
Naturalmente que Tornatore não ficou apenas por aqui e brindou-nos ainda com filmes excepcionais como “Estamos todos bem” de 1990; “O Homem das Estrelas” de 1995; “A Lenda do Pianista do Mar” de 1998; “Malèna” de 2000 ou “Baarìa” de 2009, este último – dito pelo próprio – a sua obra mais autobiográfica e íntima. Por tudo isto e por muito mais recomenda-se vivamente aos leitores deste blogue que se tornem cinéfilos assíduos, apaixonados da belíssima Sétima Arte, que nos tem dado, desde inícios do século XX, filmes soberbamente maravilhosos. Em jeito de conclusão, permitam apenas que deixe abaixo algumas sugestões de filmes, de alguns dos maiores cineastas italianos, e que me marcaram ou têm marcado profundamente:
Federico Fellini - Amarcord, Roma, Satyricon, 8 e meio, La Dolce Vita
Luchino Visconti - Il gatopardo, Morte em Veneza, Rocco e os Seus Irmãos
Bernardo Bertolucci - 1900
Ettore Scola - Feios, Porcos e Maus
Pasolini - Salo ou os 120 dias de Sodoma
Dino Risi - Perfume de Mulher
Nanni Moretti - O quarto do Filho
Marco Ferreri - A Grande Farra
Roberto Rosselini - Viagem a Itália
Vittorio de Sica - Ladrões de Bicicletas
Giuseppe Tornatore - Cinema Paraíso
Marco Bellochio - O Diabo no Corpo
Antonioni - Blow-up
Roberto Benigni - A vida é Bela
Gabriele Salvatores - Mediterraneo
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